terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O MARANHÃO É O BRASIL

BRASILIA - Nada poderia espelhar melhor a desigualdade brasileira do que o Maranhão que emergiu de três páginas diferentes da FOLHA na última sexta-feira.
Na pag. A2, no texto "A crise na janela", delicioso como sempre, José Sarney não fica a ver navios e sim "um solitário barco envolto na bruma de sal". É a crise
a olho nu, mas Sarney trata de enaltecer São Luis como o segundo porto do Brasil, exportando 110 milhões de toneladas de minério de ferro e de alumínio, além
de soja, milho e babaçu.

O Maranhão também tem "a maior fábrica de aluminio do mundo, a da Alcoa" e a "melhor infraestrutura do nordeste", com estradas de ferro e "comboios imensos,
milhares de operários, lavra, energia e estradas". Fantástico !

Mas esse é um Maranhão. Há outros. Você vira a página e, na A4, as notas "Fichados 1" e "fichados 2", do Painel, informam que o Estado contribui para a nova
"LISTA SUJA" de trabalho escravo com um juiz, Marcelo Baldochi, e o ex-prefeito de Santa Luzia, Antonio Braide, pai de um ex-assessor do ministro maranhense
Edison Lobão.

Virando mais uma página, chegamos à A6 e a reportagens sobre maranhenses que, no primeiro dia do ano, incendiaram a prefeitura, o fórum e o cartório da mesma
Santa Luzia, a 300 km de São Luis e do segundo porto brasileiro. Motivo: quem ganhou a eleição para a prefeitura não levou. A justiça não deixou.

Na véspera, com os salários atrasados e sem Natal, prestadores de serviços tinham invadido a casa do prefeito Zilmar Melo e a empresa de informática da familia,
em Tutoia (457 km da capital e do porto maravilhoso). Quebraram até os carros. O que restou, levaram.

E o Maranhão de um ex-presidente recente (1985 a 1990) e da "maior fábrica de aluminio do mundo" não é só lembrado por trabalho escravo e pela fúria de cidadãos,
mas pelos piores desempenhos em português e em matemática. E no IDH, claro. O Maranhão é o Brasil. Ou melhor, o Brasil é o Maranhão.

Texto da jornalista Eliane Cantanhêde(elianec@uol.com.br), publicado, neste domingo, dia 04/01/2009, na pagina A2, do jornal FOLHA DE SÃO PAULO.